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Impropriedades

2011 - 2016

fotografia

dimensões variáveis

Impróprio, inapropriado, inadequado… são adjetivos possíveis de se atribuir ao motivo pelo qual tantas pessoas foram removidas de suas casas, destituídas de seus proprietários devido aos escusos interesses que tinham na especulação financeira seu eixo norteador; este procedimento gentrificador almejava encontrar lugar para supostos investimentos internacionais, amplamente divulgados como parte de um pretenso “legado” que a cidade do Rio de Janeiro herdaria das olimpíadas de 2016 (dívida desmedida e mentira deslavada). Tornou-se evidente, dada a instauração do contexto distópico em que a cidade se encontra, que é preciso debater publicamente planos urbanísticos cujo viés seja o do desalojamento, motivo pelo qual esta mostra configura-se como uma proposição pertinente ao lugar em que se insere, uma instituição que luta por sua própria sobrevivência, em correspondência aos residentes do espaço humano em que situa-se, um centro urbano desfigurado, que busca reaver seu senso comunitário em meio a processos tais como o desabrigo e o arruinamento. As imagens aqui ampliadas em grande formato neste último andar do edifício histórico do CMAHO são documentos visuais que portam temporalidades em transe, por meio das quais retrata o que sobrou das habitações destruídas pelo poder público por entre desmandos e desmontes. Racy nos dá a ver resquícios e indícios dos modos de vida dos cidadãos que ali habitaram, antes de que tivessem que sujeitar-se aos desmandos de um plano diretor que considera menor o conceito de domicílio, cuja principal característica seria a permanência. Nesta conjuntura decisiva da história da humanidade, em que a maior parte da população vive nas cidades, repensar a maneira pela qual planificamos, construímos e gestionamos os espaços urbanos não é mais uma opção, senão uma urgência: moradia é um direito básico do cidadão. Em um lugar no qual o “bota abaixo” se reafirma enquanto método reiterado nos planos urbanísticos implementados pelos que detém o poder de decidir, é preciso fincar pé e erguer a cabeça contra o desvario premeditado: ocupar e resistir - apropriar-se.

Leno Veras

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