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mais valia

2022

madeira, madeirite e impressão jato de tinta em papel sulfite 

320 x 270 x 160 cm

Texto de Alexandre Sá

“Com diferença de grau e de intensidade, todas as cidades brasileiras exibem problemáticas parecidas. Seu tamanho, tipo de atividade, região em que se inserem, etc. são elementos de diferenciação, mas, em todas elas, problemas como os do emprego, da habitação, dos transportes, do lazer, da água, dos esgotos, da educação e saúde são genéricos e revelam enormes carências. Quanto maior a cidade, mais visíveis se tornam essas mazelas. Mas essas chagas estão em toda parte.”

Milton Santos

mais valia é um desdobramento de um trabalho realizado entre 2011 e 2016, no qual João Paulo Racy começa a registrar as desapropriações ocorridas no Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos (2016) e para a Copa do Mundo (2014). E é, diante de tais experiências de devastação que Racy se aproxima da produção em Artes Visuais, faz suas escolhas e sedimenta sua trajetória no circuito. Tais desapropriações, herdeiras de outras tantas, embora invisibilizem diversos conjuntos de sobreviventes, expropriados e arrancados à força de seus espaços afetivos e de subsistência, iluminam a fome e a urgência da gentrificação diante de processos de ocupação e visibilidade internacionais de um jogo político mais amplo, no qual, obviamente, temos pouquíssima ingerência. O trabalho do artista prioriza essas marcas de negociação, essas feridas não passíveis de narração que ficaram encravadas nos vestígios das construções enquanto ainda sobreviviam. Ou enquanto puderem sobreviver pelo imaginário construído como repertório.

 

Neste caso específico, Racy tira o hífen do termo utilizado por Marx que, à princípio indicaria a disparidade inevitável entre o pagamento e o valor não-quantificável do próprio trabalho. Ao realizar tal operação, o substantivo torna-se verbo no pretérito: valia; abrindo um fosso de compreensão a ser respondido pelo próprio trabalho em conjunção com o espectador: o que valia mais? A imagem desapropriada de uma ausência radical é impressa aqui como lambe-lambe em uma réplica de outdoor a ser disposto no eixo central da Casa França Brasil para, além de barrar qualquer experiência de continuidade entre as duas extremidades do prédio, impor-se como dúvida, rir de sua precariedade como obra e expor-se como ferida geográfica, econômica e histórica do Brasil e obviamente, particularmente moldável ao universo carioca.

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